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                                    Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 70, n. 110, p. 259-303, jul./dez. 2024260Resumo: Este artigo analisa a transformação do processo judicial na era digital, abordando a transição de um modelo “quo non est in actis non est in mundo” que traduz o princípio da escritura, introduzido pelo Direito canônico do século XIII, para um sistema em rede, orientado a dados e impactado pela inteligência artificial e pelo princípio da conexão. A partir de um referencial teórico que articula Gilles Deleuze (“repetição” e “diferença”), a teoria das redes e os debates críticos sobre tecnologia, o texto explora as gerações do processo eletrônico, desde a mera digitalização até a emergência do “big data-driven proceedings” e da eclosão da engenharia de prompt jurídico. Discute-se o papel da conectividade, do medium e dos mega dados como elementos que redefinem a racionalidade processual. Analisa-se o potencial de vieses algorítmicos em sistemas de IA, como o programa ASSIS (TJRJ), e as normativas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), contrapondo os riscos de uma repetição acrítica de padrões com as possibilidades emancipatórias da tecnologia. Conclui-se que, apesar do potencial para otimização, é imperativo um controle epistêmico e democrático sobre a IA judicial para garantir que o processo em rede sirva aos direitos e à diferença deleuzeana, ao invés de cristalizar e promover uma repetição automatizada, a cristalizar, antes que uma rede de justiça em rede, uma justiça enredada.Palavras-chave: processo em rede orientado a dados; Inteligência Artificial judicial; Big Data forense; vieses algorítmicos; princípio da conexão; engenharia de prompt.Abstract: This article analyzes the transformation of the judicial process in the digital age, addressing the transition from a “quo non est in actis non est in mundo” model, which translates the principle of writ introduced by 13th-century Canon Law, to a networked system, data-driven and impacted by artificial intelligence and the principle of connectivity. Drawing on a theoretical framework that articulates Gilles Deleuze (“repetition” and “difference”), network theory, and critical debates on technology, the text explores the generations of the electronic process, from mere digitalization to the emergence of “big data-proceedings” and the advent of legal prompt engineering. It discusses the role of connectivity, the medium, and big data as elements that redefine procedural rationality. The potential for algorithmic biases in AI systems, such as the ASSIS program (TJRJ), and the normative acts of the National Council of Justice (CNJ) are analyzed, contrasting the risks of an uncritical repetition of patterns with the emancipatory possibilities 
                                
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