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93Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 70, n. 110, p. 65-96, jul./dez. 2024mostrando como a nova tecnologia tem reduzido a espiral das ações judiciais, antes sempre crescente. Foi também este um dos argumentos usados pela chamada “reforma trabalhista”; e várias de suas normas seguiram essa direção.No entanto, pelo menos na esfera trabalhista, é preciso separar o joio do trigo. O excesso de demandas, se existe (ou se já existia), não é fruto de um problema moral ou psicológico; não se trata de uma distorção nos modos de ver ou de buscar a Justiça. Muito menos se trata de uma estratégia geral para extorquir verbas indevidas dos bolsos dos patrões.Na verdade, se há ou houve “demandismo”, é simplesmente porque o Direito do Trabalho - ao contrário do Direito Civil - não se cumpre espontaneamente, pelo menos por inteiro. Se qualquer um de nós paga o preço do café, o ingresso do cinema ou a passagem do ônibus sem sequer pensar em não fazê-lo, muitos de nós, em grau maior ou menor, podem se sentir tentados em sonegar a hora extra ou o adicional noturno, caso se tornem empresários.No plano concreto da vida, como já lembrei, o empresário tende a cumprir a norma pelas metades. Tal como faz com a própria força de trabalho, ele comanda a regra jurídica, aplicando-a como quer, quando quer,quanto quer... e se quiser. E a razão é simples: a partir do FGTS, que extinguiu a estabilidade decenal e barateou a despedida dos instáveis, o empregador se tornou “o detentor do contrato”, para repetir a lição de Vilhena.Desse modo, são as violações de direitos - e não propriamente as ações trabalhistas - que se acumulam. Quase sempre, é apenas quando o contrato termina, ou quando quer terminá-lo, que o trabalhador procura a Justiça. Aliás, é de se supor que a maior parte não o faça sequer nesse momento, temendo retaliações que dificultem um novo emprego.CONCLUINDONaturalmente, estamos apenas no começo dessa nova aventura chamada Inteligência Artificial. No futuro, tudo pode acontecer. Talvez a variável mais importante esteja no fundo da cena: são as relações de poder que potencializam as escolhas das Big Techs.Como observa Yuval Noah Harari, autor de “Sapiens” e outros best-sellers, seria ingênuo pensar que a IA será eternamente a nossa serva, “[...] pois tanto poderá prevenir grandes males [...] como formular desafios”. E ele pergunta: “[...] quando milhares de IA superinteligentes interagirem entre si, que tipos de coisas podem inventar?”

