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83Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 70, n. 110, p. 65-96, jul./dez. 2024conclusões, ainda mais vindas de grandes cientistas26 - pois me vejo longe de dominar até mesmo a ciência do Direito, que é a minha área, quanto mais esse universo misterioso que está surgindo. Aliás, a essa altura da vida, já nem sei se o Direito é apenas ciência, como aprendi nos livros, ou também uma forma disfarçada de arte.Assim, tendo em vista minha enorme ignorância, proponho-me apenas a perguntar se não seria o caso de relativizarmos um pouco aquela afirmação. E começo pelas emoções.Não há como ignorar, de fato, que elas habitam, ou podem habitar, até as ciências exatas. O próprio Einstein confessou, certa vez, que a sua Teoria da Relatividade nasceu de uma intuição na infância. Tenho até concluído, de minha parte, que as nossas ideias nascem das emoções que sentimos.Nesse sentido, se um matemático ou um poeta tiver o hábito de passear num parque aos domingos, é possível que as suas obras escondam o perfume de uma flor ou o canto de um sabiá - ainda que não percebidos, nem referidos, mas apenas traduzidos em versos ou equações. E no ambiente da IA, de fato, não vemos nada que nos lembre um parque, com os seus perfumes e sabiás.No entanto, se a IA não é capaz de sentir, o fato é que recolhe elementos - dados, imagens, opiniões etc. - que se banharam algum dia em emoções, ou que de algum modo, mesmo leve, foram tocados por elas. Além disso, nada impede que uma resposta daquele Chat possa gerar emoção em nós. Uma pesquisa recente, que submeteu pessoas a encontros com médicos e com um equipamento de IA, mostrou que a maioria delas encontrou mais empatia com a IA do que com os médicos - sem saber que se tratava de uma máquina27.Pensemos numa bela música, composta por alguém que já se foi. Por anos e anos, a emoção do artista continua nos acordes, e ainda nos contamina. De forma análoga, as informações ou os argumentos que a IA 26 Nesse sentido, por exemplo, COULDRY, Nick. Academia Brasileira de Ciências. Reunião magna de 11/05/2024. Disponível https://www.abc.org.br/2024/05/11/nick-couldryia-nao-e-inteligencia-nem-e-artificial/. Acesso em: 15 ago. 2025. Na mesma linha, NICOLELIS, Miguel. Canal Livre. Band Jornalismo. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=N_pVRc0rx-U. Acesso em: 15 ago. 2025. 27 VAJNGARTEN, Mauricio. ChatGPT demonstra mais empatia com os pacientes do que nós, médicos de carne e osso? In: Medscape. Disponível em: https://portugues.medscape.com/verartigo/6509620?form=fpf. Acesso em: 28 set. 2025.

