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80Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 70, n. 110, p. 65-96, jul./dez. 2024Vejam que num tempo em que a sede de igualdade aumenta, e as instituições em geral, com os seus projetos, normas e hierarquias estão em crise - inclusive de legitimidade - aquelas cerimônias se sustentam só a duras penas.Não à toa, alguns juízes tentam criar um clima ameno, de descontração, seja servindo café, falando de futebol ou mesmo mandando pintar as paredes de cores suaves; ao passo que outros, pelas mesmas razões, mas com práticas opostas, tentam exacerbar ainda mais a postura autoritária de antes.É verdade que as mudanças que hoje vivemos podem ser celebradas como fruto de uma evolução; quanto menos deus o juiz ou a juíza se mostrar, maior será sua proximidade com as partes; e não é com distâncias que se constrói uma Justiça justa. No entanto, exatamente porque o clima geral é de contestação à autoridade - palavra que não se confunde, é claro, com autoritarismo - pode ser que as sem-cerimônias dificultem, aqui ou ali, a função de julgar.Aliás, já não são tão raros assim os casos de advogados que recebem “voz de prisão” de um juiz e reagem em sentido oposto. Ouve-se então, de um lado ou de outro, a declaração de que “o senhor está preso!”, como já aconteceu algumas vezes em Belo Horizonte.Inversamente, como é natural, a audiência virtual pode empoderaro sujeito que enfrenta o juiz apenas de longe, em sua própria casa, ou seja, em seu domínio, ou mesmo num escritório particular. E esta pode ser uma boa notícia, especialmente no caso do juiz que confunde autoridade com autoritarismo.Por outro lado, se a visão e a escuta podem se manter íntegras, a sala virtual pode diminuir a percepção do juiz em face dos corpos. Com o uso da tecnologia, pode ser que pequenos detalhes - como sinais do rosto, respiração ou tiques nervosos - sejam menos percebidos. Ora, um dos maiores encantos da sentença judicial, como já lembramos, é a sua etimologia... E a IA parece conspirar contra o sentire.O CHATGPT CONSEGUE CRIAR?Tentando encontrar uma resposta racional a esta pergunta, optei - paradoxalmente - pela irracionalidade. Deixando o bom senso de lado, e entrando no universo do absurdo, perguntei ao ChatGPT se um macaco que também é um peixe pode ser também um macaco. E então, para minha surpresa, vi o Chat mesclar a razão com elementos do surreal:

