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Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 70, n. 110, p. 117-137, jul./dez. 2024133Assim, há que se rechaçar a hipótese de o objeto máquina poder ser provedor do significado retratado em linguagem humana, na medida em que a máquina nunca ultrapassará a sua mera condição material de significante, inapta a delimitar o seu próprio significado, ou o significado de sua operação. A atribuição de significado representa ato de consciência histórica, e não de estrita operação matemática.CONCLUSÃOO ser de cultura é necessariamente um ser-com-o-outro, o que se processa por práxis linguística.A linguagem é, pois, o centro do ser humano, quando considerada no âmbito que só ela consegue preencher: o âmbito da convivência humana, o âmbito do entendimento, do consenso crescente, tão indispensável à vida humana como o ar que respiramos (Gadamer, 2021b, p. 182).Inconcebível, nesse contexto, qualquer pretensão no sentido de que a atuação da inteligência artificial possa se arrogar à condição de provedora da verdade, por suposta atuação supra-humana. A consciência não pode ser simplesmente definida (de - fine, ou seja, que determina fim) por outrem, e muito menos por uma coisa, uma máquina.Predizer mecanicamente o que está representado em linguagem, embora possa ser tecnicamente eficiente na análise objetiva da linguagem datificada, não representa operação guarnecida de substância moral. “A palavra tampouco é instrumento, capaz de construir, como a linguagem da matemática, um universo dos entes, objetivados e disponíveis graças ao cálculo” (Gadamer, 2021a, p. 590).Vivenciamos uma era de absolutização de referenciais ínsitos à mera operacionalidade técnica e instrumental da realidade. Como muito bem pontua Donna Haraway, “[...] atribuímos à ciência o papel de um fetiche, um objeto que os seres humanos produzem apenas para esquecer seu papel ao criá-lo, desconectada do jogo dialético dos seres humanos com o mundo ao redor” (Haraway, 2023, p. 15).Ocorre que o ser humano jamais legará uma tradição sob a égide de um determinismo maquinal. História e sentido humano de existência são correlativos, o que bem demonstra o risco de uma era na qual, cada vez mais,

