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Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 70, n. 110, p. 117-137, jul./dez. 2024132A aposição objetiva de alguma grafia em uma decisão judicial pela máquina, por si, nada representa humanisticamente. Passa a representar, enquanto linguagem humana, quando se presta à condição de significante, ou seja, quando expressa ato de cultura de um magistrado que se dirige a um jurisdicionado. Como bem pontua Gadamer, [...] palavra e língua são aquilo com o que lidamos uns com os outros e com o mundo no qual estamos em casa - esse morar do qual Hegel já estava consciente ao empregar a bela expressão 'encontrar sua moradia' para descrever a tarefa vital humana (Gadamer, 2012, p. 37).O valor simbólico está situado na significação dada pelos termos da relação, pelos sujeitos. E essa significação é a um só tempo denotada e apreendida na consciência, do que decorre a assertiva de que a ação humana forma não só o objeto (significado) mas também os sujeitos (por e para quem o objeto é significado). Nas palavras de Lima Vaz,[...] a realidade mediatizadora das consciências não é a coisa do ser-aí, opaco e puramente natural. É a realidade compreendida e transformada, a realidade humanizada pelo ato de consciência, indissoluvelmente significação e trabalho, teoria e práxis8 (Lima Vaz, 2012, p. 256-257).8 Prossegue Lima Vaz: “[...] tal realidade é que dá conteúdo objetivo ao processo histórico, e ela o dá porque precisamente nela, e por ela, o mundo se torna para o homem uma tarefa e um sentido: a tarefa de sua práxis, de seu trabalho, e o sentido de seu ser-em-comum com os outros homens. O sentido mesmo da história. Dentro desta perspectiva não há como se estabelecer, por outro lado, uma prioridade causal entre o trabalho e a significação, o trabalho e a consciência. Tal seria, por exemplo, a relação de prioridade implicada no esquema que apresenta a consciência resultando do trabalho e da palavra, segundo um processo de consecução ao mesmo tempo temporal e causal: trabalhando, o homem (ou o antropoide que irá transformar-se em homem) vem, por necessidade social, (e concomitantemente a modificação dos seus órgãos vocais), a articular a palavra e a construir a linguagem. E a consciência resulta desta evolução, não sendo mais que o reflexo num cérebro, também ele já profundamente complexificado, do trabalho e da linguagem, e da realidade objetiva por eles visada” (Lima Vaz, 2012, p. 256-257).

