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Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 70, n. 110, p. 117-137, jul./dez. 2024126A desambiguação parte do princípio estruturalista que assume “[...] a independência do conhecimento linguístico relativamente ao conhecimento do mundo, e a ideia de que a formalização deste conhecimento é possível” (Amaro; Mendes, 2016, p. 181), o que poderia ser realizado a partir de dois tipos de abordagens: as decomposicionais e as relacionais5.Contudo, como muito bem pontuado por Parreiras, a complexidade inerente à aprendizagem humana tem como característica a imprevisibilidade, que se irmana à ambiguidade, um caos não-determinístico que[...] tem como uma de suas características principais a sensibilidade às condições iniciais que podem afetar o comportamento do sistema de forma imprevisível. Essa característica relaciona o caos não-determinístico diretamente ao funcionamento dos sistemas (Parreiras, 2005, p. 85).O desafio da “desambiguação” representa, na verdade, a própria missão humana de a um só tempo inferir e conferir significações, em um mundo de cultura. Como bem sintetiza Weizenbaum, “[...] a crença no binômio racionalidade-coerência corroeu a força profética da própria linguagem” (Weizenbaun, 1976, p. 30). A fronteira a ser irrompida pela “desambiguação” é de ordem antropológica e metafísica, e não estritamente lógica.Tanto o afã do leigo em exigir definições inequívocas quanto o fascínio pela univocidade de uma epistemologia unilateral e semântica desconhecem não só o que seja linguagem, mas também o fato de que a linguagem do conceito não pode ser inventada (Gadamer, 2021b, p. 138). 5 “As abordagens ditas decomposicionais (Bierwisch, 1971; Wierzbicka, 1972; 1996; Talmy, 1985; Jackendoff, 1990; Pustejovsky, 1995) baseiam a descrição do significado das unidades lexicais em unidades mais pequenas (sic.), partilhando todas elas o interesse pela interação entre o léxico e a cognição num sentido s lato, quer pela procura dos fundamentos cognitivos para as descrições do significado; quer pela procura dos fenômenos de interface entre a semântica e a informação contextual e não linguística. As abordagens denominadas relacionais (Mel´cuk 1988; 1998; Miller et al. 1990; Fellbaum 1998), por outro lado, têm como base o significado da unidade lexical como um todo e procedem à descrição desse significado com base nas relações que as unidades lexicais estabelecem entre si ou entre si e unidades de outros níveis, como, por exemplo, as unidades sintagmáticas” (Amaro; Mendes, 2016, p. 181).

