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                                    Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 70, n. 110, p. 117-137, jul./dez. 2024125Ocorre que o limite da teoria que substancia a verdade na estrita coerência objetiva veio a ser reconhecido pelo próprio Wittgeinstein, em suas “Investigações Filosóficas”, obra na qual ele “[...] irrompe contra todo dualismo epistemológico e antropológico” (Oliveira, 2015, p. 125). A centralidade do fenômeno humano e do conhecimento passa a ser reconhecida na dialética intersubjetiva, “[...] à consideração da relação entre conhecimento e ação, linguagem e práxis humana, como também à consideração explícita do papel da comunidade humana na constituição do conhecimento, e da linguagem humana” (Oliveira, 2015, p. 126).O próprio Wittgeinstein cuidou de rebater a teoria da afiguração do Tractatus, pela qual a estrutura da linguagem pressuporia uma “isomorfia entre linguagem e realidade” (Oliveira, 2015, p. 128), vindo a admitir o caráter transcendental, e não meramente instrumental e designativo da linguagem4. Nas palavras de Gadamer, “[...] Wittgenstein aprendera que a idealização lógica da linguagem, à qual tinha aspirado em seu Tractatus, era contrária à essência da linguagem” (Gadamer, 2012, p. 195).Impossível, assim, inferir uma suposta “verdade” de significado da linguagem supostamente “pré-estabelecida” em padrões semânticos identificáveis em um big data, pelo simples fato de ser “[...] impossível a significação de palavras sem uma consideração do contexto socioprático em que são usadas” (Oliveira, 2015, p. 131). Ou seja, “a essência da linguagem não reside na superfície, tal como a procura acolher de maneira por assim dizer cartográfica uma lógica proposicional” (Gadamer, 2012, p. 195).Notabiliza-se no processamento computacional da linguagem humana a busca por aquilo que se denomina de “desambiguação”, ou seja, a seleção, numa “lista de sentidos”, da “[...] definição disponível mais adequada, baseando-se no estabelecimento de correspondências entre a caracterização dos sentidos de uma unidade lexical e fatores relacionados com o contexto” (Amaro; Mendes, 2016, p. 180). Para a funcionabilidade da heurística matemática, “[...] os signos devem ser, antes de tudo, inequívocos. É inadmissível que o mesmo símbolo sirva para denotar dois objetos diferentes na mesma questão” (Polya, 1995, p. 99).4 “Uma vez vislumbrado o caráter transcendental da linguagem, cai por terra a teoria objetivista (instrumentalista, designativa) da linguagem, pois, se entidades, coisas, atributos, propriedades, eventos etc. não nos são dados sem mediação linguística, é um absurdo querer determinar a significação de expressões linguísticas pela ordenação de palavras a realidades por meio de convenções” (Oliveira, 2015, p. 128).
                                
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