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Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 70, n. 110, p. 117-137, jul./dez. 2024123grande acurácia em sua capacidade de inferência semiótica do “sentido objetivo” da linguagem. Essa capacidade é decorrente do exercício suprahumano de identificação de padrões que, por generalização, associam determinado signo linguístico a aspectos da realidade retratados digitalmente em uma grande base de dados.Se o “sistema simbólico” da ciência da computação tratava a linguagem humana como uma “estrutura” estritamente objetiva, a que se vinculava, por programação, um determinado léxico, a um dado da realidade (ex.: palavra “casa” associada, por programação, à imagem de uma casa, em rígido estruturalismo linguístico), o modelo conexionista de aprendizagem de máquina encontrou amparo na psicologia comportamental behaviorista, igualmente em voga no positivismo que marcou o início do século XX, para se inferir o “significado” das palavras, desta vez não propriamente a partir de uma programação prévia, mas sim a partir de uma inferência decorrente da generalização associativa de comportamentos massivos que vinculam determinadas palavras ou expressões a determinados aspectos da realidade (se massivamente o léxico “casa” é usado para se referir à realidade de uma estrutura habitacional, é porque este seria o significado dessa palavra, independentemente de qualquer programação prévia).No fundo, contudo, estruturalismo linguístico e behaviorismo comportamental, apesar de partirem de premissas distintas - o primeiro focado no objeto linguagem e o segundo centrado no comportamento humano -, ao cabo derivam uma mesma proposição que pretende reduzir a complexidade do fenômeno humano a alguma explicabilidade substanciada em coerência formal, seja decorrente de algum padrão semiótico de significação objetiva da linguagem (estruturalismo), seja no padrão objetivo de comportamentos (psicologia comportamental behaviorista).Em ambos os casos, embora por caminhos distintos, chegamos à conclusão de que sempre o ser humano acaba sendo reificado, reduzido à condição de coisa, seja por figurar como objeto de incidência a acatar passivamente a significação dada pelas estruturas dos estados das coisas, notadamente da linguagem (estruturalismo), seja por supostamente representar um mero derivativo da incidência de um determinado padrão objetivo de comportamento (behaviorismo).A matematização da verificação de “constantes” na informação, emulada pela retroalimentação com os seus próprios dados (feedbackpositivo), está no âmago da potente indução comportamental a que se mostraram aptas as redes sociais geridas por algoritmo de inteligência artificial. Como bem pontuado por Weizenbaum, os computadores são

