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                                    Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 70, n. 110, p. 117-137, jul./dez. 2024124instrumentos que “[...] moldam a reconstrução imaginativa da realidade pelo homem e, por conseguinte, instruem-no sobre a sua própria realidade” (Weizenbaun, 1976, p. 174). Ou como bem pontua Zuboff,[...] novos protocolos automatizados são planejados para influenciar e modificar o comportamento humano em escala da mesma forma que os meios de produção são subordinados a um novo e mais complexo meio de modificação do comportamento (Zuboff, 2020, p. 31).Em tal contexto, podemos afirmar que a linguagem que se preserva humana não será aquela redutível a um estreito esquema lógico preditivo de significação, ao passo que o ser que pretende se preservar humano não abdicará da práxis de permanentemente significar sua existência por meio da linguagem. Como bem pondera Gadamer, “[...] se a linguagem não ‘festeja’ mas ‘trabalha como realização do ‘aí”, ela jamais diz algo já dito. Constantemente, ela é uma vez mais a resposta” (Gadamer, 2012, p. 118).O modelo data driven da inteligência artificial está substanciado no “logicismo relacional” de um algoritmo modelado para que o ser humano assuma passivamente como fato aquilo que representa derivativo de padrão inferido na estrutura relacional entre dados. Tal como na teoria da figuração de Wittgenstein, “[...] aqui, na determinação estrutural do mundo, passa para o primeiro plano a perspectiva da Relação” (Oliveira, 2015, p. 97).Assim, modelo data driven de persecução algorítmica da verdade a partir da “[...] conexão dos objetos nos estados das coisas”3 converge não só com o behaviorismo, mas também a proposta de Wittgenstein constante do Tractatus. O tipo de relacionamento entre os objetos de um estado de coisas é o que Wittgenstein chama sua estrutura. Daí porque a “estrutura do fato é constituída pelas estruturas dos estados das coisas” (Oliveira, 2015, p. 99).3 Para Oliveira, “Wittgenstein afirma uma identidade estrutural entre o mundo dos fatos e o mundo do pensamento, isto é, a estrutura do pensamento correspondente à estrutura do mundo. Só quando se realiza tal condição, podemos dizer que alguém tem pensamentos sobre o mundo, e com isso Wittgenstein encontra a sua resposta ao problema da verdade. [...] Há, pois, uma correspondência entre a conexão dos elementos da figuração e a conexão dos objetos nos estados de coisas (2.032) Verdade nada mais é do que a identidade das estruturas das coisas e do pensamento” (Oliveira, 2015, p. 105).
                                
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