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                                    Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 70, n. 110, p. 535-734, jul./dez. 2024687Nega que estivessem presentes os requisitos caracterizadores da relação de emprego, sustentando que foi o reclamante quem contratou a empresa a fim de captar passageiros por meio da utilização de sua plataforma, sendo ela quem lhe fazia pagamentos para tanto, e não o contrário. Defende a inexistência de habitualidade e pessoalidade na prestação de serviços. Nega que tenha havido relação de subordinação entre as partes, asseverando que nunca foram impostos à autora horários, jornada, metas ou qualquer outro tipo de ordem.Pugna, assim, pela improcedência total dos pedidos.À análise.A questão a ser enfrentada diz respeito ao fenômeno intitulado “uberização” e se consubstancia na relação entre motoristas e empresas titulares de plataformas digitais voltadas ao desempenho de atividade econômica de transporte de passageiros, representando um novo modelo de organização do trabalho.Por relevante, vale abordar a contextualização histórica da organização do trabalho, tema que foi exposto de forma sublime pelo i. Magistrado Márcio Toledo Gonçalves no processo 0011359-34.2016.5.03.112, em que figura no polo passivo a empresa Uber do Brasil, atuante no mesmo ramo da ora reclamada 99 Tecnologia Ltda. Senão, vejamos:“(...) Na denominada sociedade urbana industrial podemos identificar a existência de três formas de organização do trabalho: a primeira foi criada pelo empresário norte-americano Henry Ford em 1914, o chamado fordismo, que representou a organização do trabalho em um sistema baseado numa linha de montagem em grandes plantas industriais. Havia ali certa homogeneização das reivindicações dos trabalhadores porque eles passavam a se encontrar sob o mesmo chão de fábrica, submetidos às mesmas condições de trabalho.A partir da década de 1960, com o esgotamento do modelo fordista, disseminou-se um novo sistema de organização dos meios de produção denominado toyotismo. O sistema Toyota de produção, que também tinha como referência a montagem de um automóvel, quebrou o paradigma da produção em massa, de modo a fragmentar o processo produtivo, 
                                
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