Page 141 - REVISTA DO TRT3 Nº 101
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               em outras causas na justiça norte-americana, quando, por exemplo, foi
               acusado de assédio em 1998 pela assistente Zelda Perkins.
                    É  certo  que  esses  termos  conciliatórios  geram  discussões  e
               dividem  advogados  e  juízes  nos  Estados  Unidos.  Alguns  já  pedem  a
               extinção desse tipo de sigilo, justificando que seria injusto um acusado
               de assédio não ter o nome revelado e, assim, continuar a trabalhar e
               repetir o comportamento no ambiente profissional, tal como ocorreu
               reiteradamente com o produtor Harvey Weinstein.
                    Mais do que alterar a legislação dos Estados Unidos, também seria
               necessário alterar a própria cultura do país. A população americana não
               denuncia  os  assédios;  apenas  13%  das  vítimas  informam  o  crime  no
               local de trabalho ao empregador ou à Justiça, de acordo com um estudo
               realizado pela Equal Employment Opportunity Commission. 15
                    Tanto as empresas de Hollywood quanto outros setores da economia
               norte-americana utilizam NDAs e outros acordos legais para proteger o
               empregador de consequências legais por irregularidades. Ocorre que a
               prática desses acordos acaba por acobertar os atos de assédio e mantém
               em sigilo a identidade do assediador, o que permite a continuação da
               prática  de  assédio  moral  e  sexual  em  face  de  outros  trabalhadores,
               surgindo novas vítimas e novos acordos de não divulgação, o que enseja
               um ciclo interminável em que não se combate a origem do ilícito, mas,
               sim, ameniza-se a dor das novas vítimas.
                    Isso pode manter o comportamento criminoso fora do olhar do
               público e dos tribunais, sendo considerada uma forma legal de comprar
               o  silêncio  da  vítima.  Desse  modo,  assediadores  como  Weinstein  ou
               Kevin Spacey poderiam ser reincidentes, sem consequências e sem o
               conhecimento do público, o que, de fato, aconteceu.
                    Após  a  sucessão  de  acusações  de  assédio  moral  e  sexual  no
               meio artístico, a possibilidade de empresas firmarem acordos de não
               divulgação pode acabar. Na cidade de Nova York houve uma alteração
               legislativa para anular qualquer contrato que inclua cláusulas, que
               pretendam  silenciar  trabalhadores  sobre  situações  de  assédio  ou
               discriminação. Brad Hoylman, um dos copatrocinadores do projeto de


               15    U.S. EEOC.  Disponível  em:  https://www.eeoc.gov/ongoing-litigation-and-settlements.  Acesso
                 em: 10 ago. 2020.


                     Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 66, n. 101, p. 131-149, jan./jun. 2020
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