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a ONG à assustadora conclusão de que a idade média desse primeiro
assédio é de 9,7 anos. 1
Em 2017, explodiu no âmbito internacional o movimento #MeToo,
por meio do qual as mulheres eram incentivadas a denunciar assédios e
violências sexuais. O movimento teve seu ápice quando duas jornalistas
expuseram casos de assédio contra o produtor de Hollywood Harvey
Weinstein, publicando reportagem sobre o tema no New York Times. A
reportagem revelou que ele não só assediava mulheres, como também
possuía uma rede de advogados que comprava o silêncio das vítimas
(KANTOR; TWOHEY, 2019).
Eventos como esses ajudaram a tornar o assédio um problema
visível, mas não foram suficientes para subjugar velhas representações
e velhos medos que continuam a subsidiar o silêncio das vítimas e a
conivência de parte da sociedade. Se, nos espaços públicos, o assédio
se tornou algo combatido mais fortemente, com demonstrações de
repúdio in loco, quando a vítima denuncia que está sendo assediada,
por exemplo, em um transporte coletivo, no trabalho permanece válida
a lei do silêncio, em razão de diversas peculiaridades e sujeições próprias
a esse ambiente.
Em 2016, a organização Action Aid divulgou pesquisa segundo
a qual 86% das mulheres brasileiras ouvidas afirmaram haver sofrido
assédio em público. O levantamento mostrou estatísticas também em
outros países, levando à conclusão de que se trata de um problema global
(ACTION AID, 2016). Já em 2019, o Instituto Patrícia Galvão/Instituto
Locomotiva ouviu mais de mil brasileiras, e o resultado foi o assustador
percentual de 97% que disseram terem sofrido assédio sexual em meios
de transporte (AGÊNCIA PATRÍCIA GALVÃO, 2019).
O Instituto Datafolha divulgou pesquisa em 2018 que apurou que
42% das brasileiras com 16 anos ou mais declararam já terem sido vítimas
de assédio sexual. O assédio é maior nas ruas e no transporte público, mas
15% das entrevistadas relataram terem sofrido assédio sexual no trabalho.
O assédio é maior entre as pretas e pardas. Além disso, quanto mais jovem
a mulher, maior o índice de assédio (INSTITUTO DATAFOLHA, 2018).
Nos Estados Unidos, em 2018, foi divulgada uma pesquisa que
demonstrou que mais de 50% das mulheres e professoras nas ciências
acadêmicas, engenharia e medicina sofreram algum tipo de assédio,
1 Disponível em: https://thinkolga.com/projetos/primeiroassedio/.
Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 66, n. 101, p. 151-182, jan./jun. 2020