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domésticas na região metropolitana de São Paulo,
segundo dados do Dieese. Essa porcentagem é bem
maior do que a de mulheres negras no mercado de
trabalho em geral, 38%. Uma herança da escravidão,
já que, ao serem libertadas, elas permaneceram nas
“casas grandes” como cozinheiras, faxineiras, lavadeiras
e babás (PORTAL BRASIL, 2016, p. 08).
É evidente, portanto, que as consequências desse processo recaem
de forma ainda mais intensa sobre as mulheres descendentes daquelas
e daqueles que foram forçosamente trazidos para o Brasil para servirem
como mão de obra escravizada.
Desse modo, a segregação sexual do trabalho é a face mais visível
da desigualdade de gênero, classe e raça, pois expressa as diferenças
nas posições das mulheres (em sua pluralidade) nessas estruturas, bem
como explica as condições de trabalho nos setores feminizados, com
destaque para o trabalho doméstico.
2.2. Discriminação de gênero das trabalhadoras domésticas à luz
da Teoria Interseccional: sexismo, racismo e classismo
A Teoria Interseccional foi cunhada em 1991 por Kimberlé
Williams Crenshaw - autora estadunidense, feminista e professora
especializada nas questões de raça e de gênero - e se configura como
4
um método de análise da realidade. Isso significa que o fenômeno sob
investigação (trabalho doméstico) será estudado a partir da interação
da trabalhadora e do trabalhador na sociedade, sob as influências de
diversas estruturas de poder e levando em consideração sua raça, classe
e gênero. Compreende-se, pois, que as relações de dominação são
perpassadas por múltiplas formas de discriminação, as quais interagem
e intensificam a vulnerabilidade dos grupos discriminados, tendo como
eixo central de análise a raça, a classe e o gênero (HIRATA, 2014).
4 Porém, o termo interseccionalidade associado aos fatores de raça e gênero provém já do século XIX,
também, nos Estados Unidos, das autoras Anna Julia Cooper, Maria Stewart e outros, em especial,
Ângela Davis em seus estudos sobre feminismo negro decolonial. Já no Brasil, destaca-se Carolina
Maria de Jesus que, muito antes do ascender do conceito de interseccionalidade, já abordava sobre
os reflexos da fome nas relações sociais, políticas e econômicas, bem como Lélia Gonzalez, que
evidenciou a complexa inter-relação entre raça, classe e gênero, mas também acentuou os elos da
população brasileira em sua completude com as populações indígena e negra.
Rev. Trib. Reg. Trab. 3ª Reg., Belo Horizonte, v. 66, n. 101, p. 183-215, jan./jun. 2020